Duo Lachrimae: “Quadros Brasileiros” – Lançamento de álbum

Dia 11/09 lancei junto a cantora @dorianamendes56 (Doriana Mendes) o álbum do Duo Lachrimae chamado “Quadros Brasileiros” com música de 1500 até o século XX.
O álbum é composto de 14 canções que traçam um verdadeiro panorama da música brasileira desde 1500 com a música do compositor espanhol que trabalhou na corte portuguesa Luys Milan até compositores do século XX como Francisco Mignone, Camargo Guarnieri, Villa-Lobos e Waldemar Henrique.
Link para ouvir nas diferentes plataformas: https://tratore.ffm.to/quadrosbrasileiros?fbclid=PAZXh0bgNhZW0CMTEAAabObMbx78Q6uBmN8qIBOU2M8yGAgy9yGcplOT3ePKi3uwLKwzqZCsHPBZY_aem_5NJtQUjU84Tca6pjHPE2JA
SOBRE O ÁLBUM:
SÉCULO XVI E XVII – ORIGENS: ENTRE PORTUGAL E A COLÔNIA
A música feita no Brasil sob o ponto de vista da tradição ocidental, ou seja, do registro, é a música feita em Portugal que seguia particularmente características próprias da música ibérica. Luys Milan nasceu em 1500, exatamente o ano que se “funda” esse projeto de Brasil. Embora espanhol, trabalhou para corte portuguesa da época, sendo um dos mais destacados compositores da região ibérica, tendo escrito o primeiro tratado para instrumento de corda dedilhada, El maestro. Nesta obra basilar para os instrumentos de cordas dedilhas, além de fantasias e pavanes para vihuela solo, contém canções em espanhol e, algumas em português, das quais extraímos nossas primeiras obras nesta longa jornada musical, que começa inevitavelmente em terras ibéricas, como um barco que partia de Portugal rumo ao um futuro misterioso.
No Brasil do século XVI, um compositor pernambucano trabalhava silenciosamente em Recife, deixando, entretanto, uma marca simbólica na música feita no Brasil: Luís Álvarez Pinto. Foi maestro de música da Basílica do Carmo, em Recife, tendo também escrito tratados de música sobre solfejo. É simbólica sua participação porque mostra um Brasil cuja produção ia além das fronteiras do sudeste brasileiro, e relembra a todos que a primeira fase áurea da colônia portuguesa nestas terras fora exatamente no nordeste brasileiro com o ciclo do açúcar que tornou, entre outras capitais da região, Recife, um dos centros econômicos e políticos do Brasil daqueles tempos. De Álvarez Pinto apresentamos “Oh Pulchra es, et decora”, divertimento harmônico para 4 vozes arranjado para voz e violão.
Compositor de transição do Brasil Colônia para o Brasil independente, Joaquim Manoel da Câmara chegou ao nosso conhecimento graças ao compositor austríaco Sigismund Neukomm, que viveu no Brasil entre 1816-1821, anotou e harmonizou 20 de suas modinhas e as publicou em Paris ao retornar à Europa. As duas obras presentes no repertório do álbum já marcam o nascedouro de um dos gêneros fundantes da música brasileira, a modinha.
1) Durandarte, Durandarte – Luys Milán (1500 – 1565)
2) Agora viniesse el viento – Luys Milán (1500 – 1565)
3) Oh Pulchra es, et decora* – Luís Álvarez Pinto (1713-1789)
4) Se queres saber a causa – Joaquim Manoel da Câmara (1780-1840)
5) Estas lágrimas sentidas – Joaquim Manoel da Câmara (1780-1840)
SÉCULO XIX – IMPÉRIO E REPÚBLICA MUSICAL
É a partir do século XIX que o Brasil começa a esboçar um desenho de nação. Seja politicamente através da independência, com todas as suas idiossincrasias, seja através da construção de um caldeirão cultural onde negro, índio e português se amalgamaram no todo híbrido e difuso.
Deste período começamos com um compositor que transita exatamente neste período quem o Brasil deixa de ser colônia e se vê diante do mundo como nação. Cândido Inácio da Silva nasceu quando o Brasil era colônia, em cerca de 1800, e não havia sequer se tornado sede do poder central da metrópole, e faleceu em 1838, quando o país já era uma nação independente com uma constituição própria e já com um vácuo de poder central desde a abdicação de Pedro I, no período chamado “Regencial”. Dele também temos uma modinha muito ao gosto da época, “Cruel Saudade Consumidora”.
Uma das características destas canções é que embora sua grafia esteja registrada para piano e canto, e mesmo com a “pianolatria” nascente no país, o instrumento de fato acompanhador era o violão, muito por conta de sua praticidade e baixo custo. O violão logo se tornou instrumento que, de importado, passou a idiomático da música brasileira. Muitos dos acompanhamentos escritos por compositores mais tardios remetem a escrita, a sonoridade, a mecânica do instrumento.
As Modinhas Imperiais estão entre as mais representativas publicações de música brasileira para canto. Copiladas, comentadas e editadas pelo escritor e musicólogo Mário de Andrade, elas são um retrato fiel da representatividade deste gênero, berço da hoje tão popular “canção brasileira”, no Brasil Imperial. Deste livro, trazemos a modinha “Último adeus de amor” de Emílio do Lago, obra de forte inspiração operística.
Carlos Gomes foi o primeiro compositor brasileiro de repercussão e carreira internacionais. Suas óperas tiveram sucessivamente estreias e temporadas de sucesso na Europa, em especial na Itália, que além de dominar o cenário operístico do século XIX, criou uma escola de canto que repercute até os dias atuais. Embora ligado a música operística, geralmente cantada em italiano, Carlos Gomes escreveu um punhado importante de modinhas em língua portuguesa. Dentre elas, trazemos “Suspiro D´Alma”, um retrato fiel do romantismo da época.
6) Cruel saudade consumidora – Candido Inácio da Silva (1800-1838)
7) Último adeus de amor – Emílio do Lago (1837-1871) (Modinhas Imperais)
8) Suspiros d´Alma – A. Carlos Gomes (1836 – 1896)
SÉCULO XX – MODERNISMO E NACIONALISMO
O século XX viu nascer os primeiros projetos de uma nação mais unificada. No campo musical, influenciado pelo nacionalismo do final do século XIX, aliado à arte moderna que rompe com quase toda estrutura do passado. Durante parte significativa deste século, os compositores travaram uma verdadeira batalha, por vezes de caráter altamente ideológico, por um projeto artístico que primasse por uma música clássica ‘genuinamente’ brasileira. Neste último quadro brasileiro, apresentaremos o projeto que se tornou hegemônico, o do nacionalismo musical brasileiro.
Heitor Villa-Lobos dispensa apresentações, é uma instituição da cultura brasileira, tanto pela música que fez como pelo que fez pela música. No repertório trazemos uma de suas canções mais belas e introspectivas que, porém, não alcançou a popularidade de outras: modinha. Escrita originalmente para piano e voz, ganhou uma versão do próprio Villa-Lobos para voz e violão.
Outro compositor basilar do modernismo nacionalista brasileiro é Mozart Camargo Guarnieri. Compositor de sólida agenda estética, sua obra é vasta de arcabouço formal e técnico impecáveis. Para representa-los temos a singela, modal e quase “praiana” canção “Adoração”, uma miniatura que sintetiza em um(1) minuto a clareza formal e a elegância harmôncia e melódica deste mestre brasileiro.
Fechando o tripé fundamental do projeto nacionalista brasileiro, Francisco Mignone traz o traço da música afro-brasileira como marca mais proeminente nos seu projeto estético. Em contraste temos uma canção feita para o filme de “Bonequinha de Seda” dirigido por Oduvaldo Viana, canção quase esquecida deste gigante da música brasileira
Encerrando o quadro nacional-modernista, temos um representante mais que perfeito do Norte do país: Waldemar Henrique. Falecido em 1995, transformou em música de concerto o universo mítico das Lendas Amazônicas, um mundo a parte que revela os muitos e variados universos dos Brasis de norte a sul. O cancioneiro de câmara de Waldemar Henrique está entre o que melhor já se produziu do gênero no país, que aliam beleza harmônica ao um forte e irrestível senso melódico. Apresentamos três lendas a amazônicas: Cobra Grande, Nayá e Uirapuru.
9) Modinha – Heitor Villa-Lobos (1887-1959)
10) Adoração* – Camargo Guarnieri (1907-1993)
11) A Bonequinha de Seda* Francisco Mignone (1897-1986)
Lendas Amazônicas* Waldemar Henrique (1905-1995)
12) Cobra Grande
13) Nayá
14) Uirapuru
Voz: Doriana Mendes
Violão: Jorge L. Santos
Mixagem e Masterização: Diogo Sarcinelli

Deixe um comentário